Presídio no Século 19

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domingo, 20 de setembro de 2009

O Príncipe Essomeriq, um carijó de Santa Catarina na França

O navegador francês, Binot Paulmier de Gonneville, tendo assistido em Lisboa uma grande recepção a Cabral em julho de 1501, quando de seu retorno das Índias com três naus carregadas de jóias e especiarias, iniciou uma conexão marítima entre França e Brasil, meses mais tarde, tendo ele a partir daí elaborado um plano para também chegar ao oriente.

Foi financiado por seis ricos mercadores de Honfleur e acompanhado de auxiliares, dois ex-integrantes da frota de Vasco da Gama, de nomes Bastião de Moura e Diogo Coutinho, um espécie de traidores, pois contrariavam uma proibição de prestação de serviços desse tipo a estrangeiros estabelecida em alvará pelo rei de portugal.

Um só navio de 120 toneladas, o L"Espoir, zarpou de Honfleur, um porto movimentado às margens do rio Sena, em frente ao canal da Mancha, no dia 24 de junho de 1503.

Seguindo a rota dos portugueses, a tripulação enfrentou tempestades e calmarias, tendo a um certo momento perdido a noção de direçao e viajado sem rumo. O escorbuto, o mal do mar, vitimou alguns tripulantes. Finalmente o navio foi dar em terras de uma ilha solitária no meio do Atlântico, hoje chamada Tristão da Cunha, à altura da atual cidade de Mar del Plata. Ali parece que Gonneville teria desistido da viagem às Índias, pois dois anos mais tarde aporta às margens do rio São Francisco do Sul, no litoral norte de Santa Catarina, fronteira com o Paraná.

Permaneceram os franceses no local por seis meses. Foram bem recebidos pelo cacique Arosca, um Carijó da tribo guarani que dois anos mais tarde foi definida pelos jesuítas portugueses "o melhor gentio da costa". Binot Paulmier de Gonneville teve o seu navio L'Espoir carregado com carne de veado, frutas e pinhões. E ainda peles e penas.

A convivência com os índios foi pacífica. Estes, impressionados com a artilharia dos franceses, a quem julgavam deuses, escolheram um representante para seguir com o navio, nada mais que o príncipe Essomeriq, filho do cacique Arosca, um jovem de treze anos. Seu destino, a França, onde segundo seu pai, o esperto Arosca, deveria aprender a fabricar canhões, com os quais ele esperava derrotar os terríveis tupiniquins do litoral de São Paulo.

Em 3 de julho de 1504, o príncipe Essomeriq, acompanhado de seu tutor Namoa, parte no navio em direção a seu destino. A viagem de volta do L"Espoir continuou atribulada. Tempestades, febres tropicais e ainda o escorbuto atormentaram a tripulação. Namoa e outros foram atacados e morreram. Essomeriq não escapou da doença. Batizado como cristão às pressas a pedido de Paulmier de Gonneville, o jovem e saudável Essomeriq se curou.
Em terras da baía de Todos os Santos, na Bahia, o navio foi abastecido de uma preciosa carga de pau-brasil. Bem recebidos pelos Tupiniquim, o comandante e a tripulação, mais o príncipe Essomeriq seguem a viagem rumo à França. Em 7 de maio de 1505, entrando no canal da Mancha, na altura da ilha de Jersey, o navio sofreu o ataque de um pirata inglês do qual a tripulação se livrou apenas para encarar em seguida um pirata bretão. Sem alternativa, o navio foi atirado pelos marinheiros contra os recifes. Nadando para a terra, encontraram refúgio antes que fossem mortos pelos piratas.
Em 20 de maio de 1505, vinte e oito homens entraram a pé em Honfleur. Com eles, Binot Paulmier de Gonneville e o príncipe carijó Essomeriq. Eram os sobreviventes do navio L"Espoir, que fora saqueado pelos piratas. Restou apenas denunciar o ataque às autoridades locais.
O destino do príncipe carijó de Santa Catarina, Essomeriq, filho do cacique Arosca foi selado, então. Binot não teve como cumprir a promessa de levá-lo de volta ao pai. Então casou-o mais tarde com sua filha Marie Moulin, e o fez herdeiro de todas as propriedades para compensá-lo de uma perda. Tornou-se Essomeriq um cidadão respeitado em Honfleur, tendo falecido aos 94 anos, em 1583. Deixou muitos filhos, netos e bisnetos. Um de seus descentes, Jean Paulmier, tornando-se abade em 1658, escreveu um livro dedicado ao papa Alexandre VII. Nele solicitou que fossem enviados missionários ao sul do Brasil. Aí, a esse tempo, os Carijó já estavam praticamente dizimados, escravizados que foram pelo povo de São Vicente, bandeirantes e mamelucos.
Sobre os resultados da viagem de Binot Paulmier de Gonneville, tem-se que foi um fracasso comercial. Porém, foi a partir daí que se divulgou que o Brasil era grande demais para que os portugueses dessem conta. Navios normandos e bretões sem conta aqui vieram recolher com muita facilidade o pau-brasil para suprir a indústria têxtil européia de corantes.
Fonte: Eduardo Bueno, Terra Brasilis, vol. 2, Náufragos, Traficantes e Degredados, páginas 77 a 83. Editora Objetiva, RJ.

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